quarta-feira, 4 de maio de 2011

A poeira baixou e o asfalto cobriu o barro

Texto em homenagem a Maringá de Antonio Roberto De Paula publicado nesta edição da Voz da Zona Leste
Nas minhas lembranças, Maringá sempre tem um lugar cativo. Sempre reservo um espaço para a menina que corria lépida para o desenvolvimento. Hoje, uma senhora que mantém o pique. Nestas lembranças, fico tentando encontrar o marco divisório entre a perda da inocência e a entrada efetiva do progresso, busco saber em qual momento Maringá ficou diferente. Sei que não terei a exatidão desta resposta porque as mudanças foram acontecendo aqui e ali e, sem me dar conta, gente foi chegando, casas foram erguidas, ruas foram abertas, o concreto avançou no verde, veículos entraram na paisagem, sons foram incorporados ao ambiente, a poeira baixou e o barro foi coberto pelo asfalto.
Você vê as paralelas Horácio Raccanello e a João Paulino, a Herval e a Duque de Caxias ampliadas. E nas quadras nascem prédios. Em movimento intenso, carros cruzam essas avenidas, tornando o Novo Centro um providencial, mas já insuficiente, corredor. Ali, era um ponto de estrangulamento. A cidade terminava atrás da Rodoviária Américo Dias Ferraz e recomeçava na Prudente de Morais. Para chegar à Colombo, só pela Paraná e São Paulo.
O tempo e a passagem diária por estes locais fazem com que a gente não perceba as modificações. Mas é só puxar o fio da memória para abrir a caixa de lembranças. Ali, no Novo Centro, havia o pátio de manobras de trens, o campo de futebol da Ferroviária, as casas dos ferroviários. Mais à frente, na São Paulo, o Viaduto do Café, que se tornava um piscinão em dias de fortes chuvas.
 Paralelepípedos, PMs nos “queijos” centrais organizando o tráfego, carroças das panificadoras, postes com lâmpadas de luz amarela, os féretros com suas longas filas de carros saindo dos bairros em direção ao Cemitério Municipal e o comércio cerrando as portas, campinhos de terra, cercas de balaústres, conversas no portão, as extensas feiras livres, os cinemas aos domingos, gente passeando nas praças, inclusive à noite, o estádio Willie Davids lotado e um time de futebol garboso, consciente de sua força... Uma variedade de lembranças vai surgindo.
Cada coisa em seu tempo. Um tempo pode ser melhor ou pior do que outro. Depende da perspectiva, de como a gente se insere no processo de mudança. Hoje, a nostalgia vem embalar estas reminiscências. Não poderia ser diferente. O tempo deixa marcas,mas é urgente seguir em busca das novidades.
 Não se pode embriagar na história e perder a manhã diária com múltiplas possibilidades. O que vivo nesta cidade vai para a caixa de recordações e vez ou outra sei que vou abri-la. Com nostalgia ou não. Vai depender do dia.
 * Antonio Roberto de Paula é jornalista

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